sexta-feira, 26 de abril de 2024

A Experiência Religiosa e o Convívio Social, por Eugênio Lins

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Eugênio Lins (*)

 

Vivemos num país livre, cuja laicidade é garantida pela Constituição Federal a qual prescreve que o estado não pode adotar nenhuma uma religião oficial nem incentivar quaisquer segmentos ou até mesmo um “Deus”. Prova disso é que podemos facilmente encontrar templos, terreiros, casas de rezas e afins de diversas correntes religiosas, passando pelas tradições judaicas cristãs, mulçumanas, afrodescendentes, orientais como budismo, entre tantas outras. Somos livres inclusive para não ter religião alguma.

 

Religião, que vem da palavra latina “religare” tem o sentido de religação, e num sentido mais amplo, na visão teológica cristã, implica em religar o ser humano a Deus, uma vez que por causa do pecado da desobediência em tomar do fruto da árvore que Deus havia dito para Adão e Eva não comerem, expulsos do jardim do Éden, perderam a comunhão com o criador e consequentemente passaram a viver distante dEle.

 

Assim sendo, a fé é uma experiência de foro íntimo, voluntária, não extensiva aos que nos cercam caso eles mesmo não tenham ou manifestem a mesma convicção. Ainda que a tradição familiar influencie na declaração religiosa de muitas pessoas, encontramos nessas mesmas, ao serem confrontadas, não serem praticantes da religião de seus pais.

 

E quando a experiência religiosa passa do foro íntimo para a manifestação pública de fé modificando de certa forma o ambiente de uso comum, o que fazer?

 

Dia 25 de julho é festejado o dia de São Cristóvão. De tradição católica romana, o santo é considerado pelos fiéis o protetor dos motoristas, caminhoneiros, taxistas e de todos os transportadores. Costumeiramente como em todos os anos em Dourados, no domingo que antecede o dia 25 há uma grande carreata que percorre a cidade a partir das 08.00 h da manhã tendo o seu ápice a igreja São Cristóvão no Jardim Maracanã. Nessa manifestação pública de fé há muita emissão de ruídos sonoros através do buzinaço promovido pelos caminhoneiros e que acaba perturbando o sono de muitas pessoas que pretendiam estendê-lo por mais tempo nesse dia considerado de descanso.

 

Entretanto, não são apenas os católicos romanos que expressam sua fé de maneira pública. Em diversas ocasiões, o trânsito é interrompido, ginásio e estádio são fechados, ruas são interditadas para que outros segmentos manifestem sua fé. Um exemplo clássico disso é a Marcha pra Jesus, realizada anualmente pelo Conselho de Pastores de Dourados, que faz uma carreata conduzida por um trio elétrico passando pelo centro da cidade tendo fechamento na Praça Antonio João com cantores e pregações, e as cruzadas evangelísticas promovidas por algumas igrejas evangélicas.

 

Portanto, a resposta para essa indagação passa pelo crivo do respeito, tolerância e amor ao próximo e suas convicções. Essas manifestações trazem conforto aos participantes, revigora a fé, a esperança, não trazendo nenhum prejuízo ao não praticante que não seja o desconforto de uma vez ao ano, num domingo, ter o sono interrompido mais cedo do que o desejado, ou ter que desviar uma quadra do trajeto para que outros possam cultuar sua crença, seu Deus, sua religião.

 

“Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” Lucas 10:27

 

Pastor, teólogo (*)

E-mail: ehlnascimento@gmail.com

 

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