sexta-feira, 26 de abril de 2024

Gargalos do Agronegócio no Brasil, por Eduardo Marcondes

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Eduardo Marcondes (*)

 

O Brasil está entre os líderes mundiais na produção de soja, milho, açúcar, café, carne bovina e de frango. Mas todos esses bons resultados, assim como as expectativas futuras, correm sérios riscos de sofrer um pesado revés. Um dos grandes entraves é a infraestrutura, em particular a precariedade da malha rodoviária do país. Esses desafios são foco da minha colaboração neste espaço.

 

O gargalo logístico envolve toda a infraestrutura de transporte do país. As ferrovias, embora tenham recebido investimentos com a privatização, ainda estão longe de suprir a demanda do setor de agronegócio e se consolidar como uma alternativa viável ao transporte rodoviário. Além da ampliação da malha de 30 mil quilômetros de extensão (praticamente igual a do Japão, país 22 vezes menor que o Brasil) é urgente a modernização do maquinário. Com os trens e bitolas atuais, a velocidade média das composições não ultrapassa lentos 25 km/h.

 

Também deixamos de fazer uso de canais de transporte de grande potencial, caso dos 42 mil quilômetros de hidrovias, em que apenas 10 mil quilômetros são efetivamente utilizados. Como resultado, sistemas como o do Tietê-Paraná, com 2,4 mil quilômetros e que consumiu US$ 2 bilhões em investimentos públicos em vários governos, escoa apenas 2 milhões de toneladas de carga/ano, apenas 10% de sua capacidade total.

 

Outro obstáculo sério ao desenvolvimento pleno do agronegócio está relacionado ao sistema tributário. Com uma economia aberta ao exterior, isto é com possibilidade de exportar e importar qualquer produto do agronegócio, a carga tributária deve ser compatível com a dos nossos competidores. Como nossos concorrentes, inclusive no Mercosul, têm impostos baixos, fica difícil ao produtor brasileiro competir nos mercados externos; vezes há que perde o próprio mercado interno porque os produtos importados chegam mais baratos.

 

Não há como o produtor rural e a agroindústria serem competitivos com governos vorazes em criar novos impostos, aumentar os atuais e com mecanismos complexos de arrecadação, o que aumenta os custos de produção. A reforma tributária é urgente, com diminuição da carga e simplificação dos procedimentos na tributação. Além das medidas de controle sanitário que também estão na relação de assuntos importantes que vêm sendo negligenciados pelo governo. Os obstáculos para o crescimento do agronegócio brasileiro são imensos, mas as soluções existem e precisam ser colocadas em prática.

 

Cabe ainda lembrar que para o Brasil se tornar a grande potência mundial do agronegócio, o país precisa resolver problemas estruturais, pois somos competitivos em algumas cadeias produtivas e em outras não. Além do mais, as políticas econômicas impedem que o rendimento seja maior e os problemas de logística geram custos elevados.

 

Contudo, o agronegócio brasileiro é persistente e, apesar desses obstáculos, cresce sua participação no mercado internacional. Isto implica dizer que as nossas vantagens como terras abundantes, potencial de produção, climas favoráveis, imensa disponibilidade de água doce e energia renovável e sua capacidade empresarial, estrategicamente suplanta qualquer problema, fazendo do agronegócio o nosso maior negócio. Se faz necessário ainda, a articulação, incremental e aplicação de políticas mais flexíveis e ágeis de crédito ao setor agrário. Os juros bem como as altas taxas de importação de aparatos agrícolas vêm, ao longo dos anos, restringindo a inserção de novas tecnologias e/ou tecnologias de ponta à agricultura de determinadas regiões, como o NE brasileiro.

 

Deve o setor calcar na viabilidade produtiva, nas diretrizes corretas fomentadas pelo Estado e na comprovada capacidade privada de produzir de racionalizar e de fazer, de fato, com que os investimentos se tornarem lucros financeiros e socialmente. Alardear o potencial do agronegócio brasileiro é o que tem sido feito pelo poder público. Sem medidas práticas, isso não tem passado de engodo da velha política brasileira, ao qual infelizmente parte das entidades representativas do setor assiste impassível.

 

(*) Médico Pediatra e Produtor Rural

 

 

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