quinta-feira, 25 de abril de 2024

Intelectualismo de manchete, por Mauricio Roberto Lemes Soares

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Mauricio Roberto Lemes Soares (*)

 

O físico Chris Anderson, autor do livro “A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho” – uma excelente obra lançada à época imediatamente anterior ao boom das redes sociais –, dentre várias predições que fez acerca do avanço da internet, foi categórico em afirmar que a partir da popularização de ferramentas on-line de produção e difusão, as pessoas “comuns” conseguiriam tornar suas ideias conhecidas do grande público.

 

Dito e feito. Treze anos após sua publicação, os grandes meios de comunicação não mais ditam quem devemos seguir como guru midiático. Tanto nas áreas da informação e do conhecimento, quanto em outras, são inúmeras as opções que temos ao nosso dispor: o mercado de nicho é um fato! Escolhemos os comediantes que nos fazem rir, as músicas que nos agradam, os filmes que nos emocionam, e enfim, aquilo que nos basta. E tudo na hora em que quisermos. Isso deveria ser ótimo…

 

Mas como orienta o ditado que “quanto maior o nosso poder, maior a nossa responsabilidade”, o fato é que nesse aspecto temos sido negligentes. E o agravante se mostra na má utilização das redes sociais. Nesse sentido, o Facebook, que possui todas as ferramentas necessárias para que seu usuário sinta-se virtualmente realizado, puxa a fila malévola. Nele pode-se postar “o que quiser” para que o público (seguidores, num primeiro momento) aprecie e consequentemente opine sobre o seu conteúdo, que vão de textos – um pensamento particular do usuário – até ao compartilhamento de fotos, matérias e tudo o mais.

 

O quesito “opinião”, sob meu olhar, é o que põe em xeque o bom andamento das redes. Alterando estupidamente o mito do “bom selvagem” de Rousseau, seria o “toda postagem é boa, mas os comentários a corrompe”. Isso acontece quando se opina acerca do que não se conhece, não se compreende totalmente ou se toma o todo (texto) pela parte (manchete). Esse último o mais perigoso. O que poderia ser uma ferramenta para compartilhar o conhecimento, em muitos casos exterioriza o ódio ideológico e subverte a liberdade de expressão.

 

A sociedade nunca foi perfeita e provavelmente nunca será, mas ler completamente um texto, refletir sobre ele e consequentemente apontar os pontos em acordo/desacordo (isso se o leitor quiser), minimiza a nossa imperfeição. Quiça nossas convicções mudem, por que não? Já cantava o saudoso Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Não seria esse o grande segredo por trás das inovações proporcionadas pela evolução tecnológica ansiada por Chris Anderson?

 

Em todo caso, as dicas do velho roqueiro ainda são bem mais baratas e menos dolorosas para absorver conhecimento do que aquelas que estão nas páginas do recentíssimo livro de Bruno Borges, o “menino do Acre”, que “fugiu” de casa para empreender umas das mais incríveis campanhas de marketing publicitário, algo nunca visto antes na história deste país.

 

(*) Professor de História

E-mail – mauricioferrinho@msn.com

 

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