quarta-feira, 24 de abril de 2024

Jesus e o Santander, por Eugênio Lins

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Pr. Eugênio Lins (*) 

 

A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em cartaz há quase um mês no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada após uma onda de protestos nas redes sociais. A maioria se queixava de que algumas das obras promoviam blasfêmia contra símbolos religiosos e também apologia à zoofilia e pedofilia ainda que no meio delas, 270 trabalhos de 85 artistas, fossem assinadas por nomes como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Fernando Baril, Hudinilson Jr, Lygia Clark e Yumi Firmesa.

 

Sem entrar na tônica das imagens que envolve crianças, sexo explícito, inclusive com animais, e também ao financiamento público baseado na Lei Rouanet, quero dar destaque para as obras de cunho religioso como, “Cruzando Jesus Cristo com Deusa Shiva”, de 1996, de Fernando Baril, a imagem de Jesus com um veado Sandro Ka, Reconhecimento, 2008 e Maria mãe de Jesus segurando um bebê macaco de Felipe Scandelari, Last Resort, 2016; todas essas artes soaram naturalmente como afronta e vilipêndio da fé cristã, em especial aos católicos que prezam e têm como prática de fé a reverência a essas imagens.

 

A reação foi imediata, líderes religiosos, movimentos conservadores, filósofos, políticos, entre outros, partiram em defesa da fé e da moral e bons costumes, com discursos contundentes, sugestão de boicote ao banco, moções de repúdio, abaixo assinado, projeto de iniciativa popular, tudo pra defender uma causa, uma fé, um Deus – Jesus.

 

Mas a pergunta que faço em meio a tudo isso é: Deus precisa ser defendido? Não é ele o todo poderoso, onipotente, onipresente, onisciente, que com o sopro de sua boca destruirá o anticristo?

 

“Então, será plenamente revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela gloriosa manifestação da sua vinda.” II Ts 2:8

 

A Bíblia, livro sagrado dos cristãos, e para os batistas em sua confissão, única regra de fé e prática, nos revela em todo decurso da história bíblica um Deus que não se deixa escarnecer, que não tem inimigo à sua altura, pois deles zomba.

 

Do seu trono lá no céu o Senhor ri e zomba deles. Salmos 2:4

 

Foi assim com Faraó, com Senaqueribe quando intentava invadir Judá, seus olhos era de guerra e desafiou o Deus dos hebreus e o profeta Ezequias junto com Isaías oraram ao Senhor e Ele enviou 1 anjo que derrotou cento e oitenta e cinco mil soldados do exército da Síria.

 

E o soldado Malco, servo do sumo sacerdote Caifás, que teve sua orelha decepada (o alvo era o pescoço) por Pedro que tinha a única intenção de defender e proteger Jesus como se o mesmo não pudesse naquele momento invocar miríades celestiais para livrá-lo das mãos de seus inimigos. Malco era um homem que se achava na multidão errada, defendendo a causa errada, envolvendo-se com pessoas erradas. Ele merecia perder a cabeça, e não a orelha, mas encontrou em Cristo misericórdia, cura e compaixão.

 

Em nome de “Deus e deuses” guerras foram travadas, cruzadas, terrorismos, torturas, estupros, cidades assoladas, famílias destruídas, como se o Ser divino não pudesse sair em sua defesa própria resolvendo a situação em questão de segundos.

 

Vale mesmo a pena guerrear na força do braço uma causa santa? Não seria melhor deixar para a justiça divina a resolução das questões que afrontam ao próprio Deus? Vivemos num país que garante a liberdade religiosa, tanto para crer quanto para não crer, que dá garantia de culto a todas as religiões. Lembrando que o Santander não é igreja, a exposição não objetivava culto e a visitação não era coercitiva.

 

Charles Sheldon publicou em 1896 um livro muito difundido nas igrejas evangélicas com título “In His Stepes” – Em seus passos o que faria Jesus? Se o próprio Cristo estivesse na exposição, o que Ele faria? Malco teria sua orelha cortada? Sopraria e destruiria o museu? Faria um sermão profético amaldiçoando seus inimigos?

 

“Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” II Cor 2:19

 

(*) Pastor, teólogo

E-mail – ehlnascimento@gmail.com

 

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