sexta-feira, 29 de março de 2024

“Marido não é profissão! Tem que estudar!”, diz caloura de 54 anos da UEMS

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Assessoria UEMS

 

Maria Maurícia Martins de Lemos, de 54 anos (Foto - Divulgação)

 

“Marido não é profissão e nunca vai ser profissão, porque eles um dia pensam uma coisa outro dia pensam outra. Tem que seguir! Tem que invocar e ir! Tem que ter um objetivo! Tem que estudar!”, ressalta Maria Maurícia Martins de Lemos, de 54 anos, que teve que enfrentar a oposição do marido para poder estudar. Ela se matriculou nesta segunda-feira (12) no curso de Letras Português/Espanhol da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) em Dourados.

 

O nervosismo e a emoção tomavam conta de Maria Maurícia, pois ela aguardava na fila da Secretaria para se matricular na vaga de Suplente (se todos os candidatos Titulares comparecessem ela não poderia assumir a vaga). Deu tudo certo e o sonho de poder iniciar o curso se realizou.

 

A nova acadêmica não pode estudar até se tornar adulta. Quando criança sempre morou e trabalhou em fazendas, capinava a roça, colhia algodão e trabalhava como doméstica. “Depois de adulta fui morar na fazenda de novo, não conseguia estudar. Quando surgiu o curso de Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) na fazenda eu não pude fazer, porque o meu esposo não deixou e adormeceu de novo o sonho”, lembrou.

 

Mas quando ela se mudou para Dourados, em 1993, enfrentou a oposição do marido e se matriculou para fazer a primeira parte do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série). “O primeiro dia que eu fui para escola eu posei para fora de casa, porque era contra a vontade do meu esposo. Posei para fora, mas no outro dia fui de novo, aí ele já não ligou mais”, disse.

 

Depois daí não parou mais, concluiu o Ensino Fundamental e mesmo trabalhando a noite, levantava cedo para cursar o Ensino Médio, que terminou em 2005. Tentou entrar em uma universidade privada logo em seguida, mas não teve condições de pagar.

 

Prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) algumas vezes, mas só em 2011 conseguiu ser bem classificada. Porém não iniciou nenhum curso universitário na época, pois estava fazendo um curso técnico de Enfermagem.

 

“Disseram que eu não ia conseguir emprego porque eu já estava velha. Falaram ‘você já está velha, quem vai contratar idosa?’. Só que eu passei no concurso do Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e hoje eu trabalho no HU (Hospital Universitário) como Técnica de Enfermagem”, comemora Maria Maurícia.

 

Contudo o sonho de fazer o curso de Letras continuava. Até que ela chegou a casa (no final de fevereiro deste ano) e sua filha lhe avisou que ela poderia utilizar a nota do Enem de 2011 no Processo Seletivo Interno da UEMS.

 

“Eu gritei de alegria! Eu falei ‘eu vou concorrer!’ e deu certo, estou aqui já matriculada, muito feliz. Agradeço a Deus, a todos que estão voltados para a educação e dando essa oportunidade para mim. Tem muita gente como eu que não conseguiu ainda e eu estou conseguindo agora. Eu não estou acreditando ainda que estou aqui. Não consigo expressar a alegria que estou sentindo! Eu cresci falando Guarani, depois aprendi Português e tenho o grande sonho de estudar Espanhol, pois é uma língua muito linda”, disse emocionada.

 

Ela, hoje viúva, tem motivado as três filhas e os quatro netos com sua trajetória de vida. “A família inteira está muito orgulhosa dela”, enfatizou Geiciele Lemos, uma das filhas, que a acompanhou na matrícula.

 

Nesta terça-feira (13), no primeiro dia de aula lá estava Maria Maurícia com seu caderno, prestando atenção e fazendo as anotações. “Achei que ia ser mais difícil, mas compreendi bem a aula, agora é correr atrás e estudar. Inclusive meu neto, que mora na Espanha, disse que vai me enviar livros e me ajudar”, destacou ela, que sonha em fazer também mestrado na área de Educação Infantil.

 

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