quinta-feira, 25 de abril de 2024

Os nove dedos de Lula, por Mauricio Roberto Lemes Soares

Compartilhar

Mauricio Roberto Lemes Soares (*)

 

Assim que noticiaram a sentença de nove anos e seis meses imputada pelo juiz Sérgio Moro ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, não tive dúvidas de que associariam o número de anos da pena ao total de dedos das mãos do petista. Não sou um exímio conhecedor dos meandros jurídicos que trilham um magistrado ao definir suas sentenças, mas uma frase, um tanto inusitada, democratiza a avaliação de todos: “de cabeça de juiz e bunda de neném, ninguém sabe o que vem”.

 

A meu ver, muitos fatores pesam para que uma sentença seja proferida, mas num caso emblemático como esse, que insere no hall da história um “primeiro ex-presidente condenado por crime comum no país”, o nú e o cru da legislação não são, per si, suficientes para explicá-la: torna-se necessário o uso do simbólico.

 

Na política, o simbólico pesa excessivamente mais do que em qualquer outra esfera. Estão em jogo interesses globais, os conteúdos ideológicos dos grupos de esquerda e direita, de “comunistas” e “fascistas” (para utilizar logo o vocabulário modinha atual). Sendo assim, se desde o início da lava-jato todas as ações foram transformadas simbolicamente por que o seu “desfecho” seria diferente? Nesse caso, a utilização do simbólico sempre foi um mecanismo utilizado para colocar em dúvida a informação que “faz” a cabeça do cidadão-pagador-de-imposto.

 

O simbólico moveu tanto os carrinhos de bebês conduzidos pelas babás negras assim como o pão com mortadela arrastou multidões a época do impeachment da ex-presidente Dilma. Cada qual usa as ferramentas que possuem. Usam o simbólico a bel-prazer.

 

O deputado Jean Wyllys foi o primeiro a se pronunciar nas redes sociais sobre a associação “nove dedos-nove anos” supracitada aqui. Base de sua argumentação é a de que Lula foi condenado por convicções de Moro e não por provas. E que os nove anos seriam uma “homenagem” do juiz ao ex-presidente por ser supostamente conhecido nas rodas informais daquele como the nine, “o nove” em língua inglesa. Absurda a suposição do parlamentar? No simbólico tudo é possível…

 

Outro fato relevante foi o fato de Lula não ter a prisão decretada após a sentença proferida. Segundo os meios de comunicação, prudência foi o pilar basilar da atitude jurídica. Mais uma vez o peso do simbólico se fez sentir na balança do poder. Até que ponto valeria a pena sofrer as consequências imprevisíveis, e por que não intermináveis, de uma eventual prisão de Luis Inácio por tudo aquilo que ele representa?

 

São incontáveis as teorias existentes acerca da proximidade de Sérgio Moro com a inteligência estadunidense. Se assim for, é bem provável que ele tenha fundamentado sua decisão usando como base o arremesso do corpo de Osama Bin Laden feito pelos EUA ao oceano para se eximir da responsabilidade do surgimento de um novo mártir.

 

Imputar a Lula – simbolicamente – uma pena relacionada à sua peculiaridade física é promover uma Guerra Fria de intimidades. Seria uma retaliação pelo fato de Lula exigir que seu depoimento fosse transmitido ao vivo em cadeia nacional de rádio e televisão?

 

(*) Professor de História

E-mail: mauricioferrinho@msn.com

 

Últimas notícias