quinta-feira, 28 de março de 2024

Segovia promete não falar mais de investigação sobre Temer

Depois de entrevista polêmica, o diretor-geral da PF foi ao STF para uma audiência com Luís Roberto Barroso, relator do inquérito sobre Decreto dos Portos

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Fernando Segovia, diretor-geral da PF (Foto: Cristiano Mariz/VEJA)

VEJA

 

 

Fernando Segovia, diretor-geral da PF (Foto: Cristiano Mariz/VEJA)

Em audiência com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, nesta segunda-feira, o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, negou ter intenção de interferir no inquérito que investiga o presidente Michel Temer (MDB) por suposta corrupção envolvendo o Decreto dos Portos e a Rodrimar, empresa que opera no Porto de Santos.

 

Intimado por Barroso a prestar esclarecimentos após dizer à agência Reuters que a investigação tende a ser arquivada por falta de provas, Segovia afirmou ter tido as declarações distorcidas e se comprometeu com o ministro, relator do inquérito no STF, a não se manifestar mais sobre os fatos em apuração.

 

As falas do chefe da PF levaram o grupo de delegados que conduz inquéritos no Supremo a ameaçar acionar a corte caso identifique alguma tentativa de interferência por parte de Segovia.

 

Depois da repercussão da entrevista, a Reuters reeditou o texto, esclarecendo que Fernando Segovia não “afirmou” que a tendência do inquérito era o arquivamento, mas, sim, “indicou” esse desfecho à investigação, baseado no estágio atual das investigações.

 

O diretor-geral da PF também disse a Barroso que foram “mal interpretadas” suas declarações sobre uma possível apuração contra o delegado da PF Cleyber Malta Lopes em razão dos questionamentos enviados por ele a Temer no âmbito do inquérito. Ao responder às perguntas enviadas pela PF, o presidente se queixou da “agressividade” de algumas delas. “Ele pode ser repreendido, pode até ser suspenso dependendo da conduta que ele tomou em relação ao presidente”, afirmou Segovia à Reuters.

 

“Pessoalmente, o Senhor Diretor-Geral afirmou-me o que brevemente resumo: a) que suas declarações foram distorcidas e mal interpretadas; b) Que em momento algum pretendeu interferir no andamento do inquérito, antecipar conclusões ou induzir o arquivamento; c) Que não teve a intenção de ameaçar com sanções o Delegado encarregado, tendo também aqui sido mal interpretado; d) Que se compromete a não fazer qualquer manifestação a respeito dos fatos objeto da apuração”, escreveu Luís Roberto Barroso em seu despacho após o encontro.

 

A investigação

O inquérito sobre o Decreto dos Portos foi aberto a partir de grampos telefônicos da Operação Patmos, deflagrada pela PF em maio de 2017 com base nas delações de executivos do Grupo J&F, que controla a JBS. Em conversas gravadas, o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures aparece articulando com Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar, sobre o decreto e tratando com integrantes do governo, incluindo o presidente, sobre o assunto.

 

O foco da atuação de Rocha Loures, que se notabilizou por ser filmado pela PF correndo com uma mala de propina por uma rua de São Paulo, era estender a flexibilização das concessões portuárias a empresas que tinham contratos anteriores ao ano de 1993, a exemplo da Rodrimar.

 

Em outro diálogo gravado pela PF, entre Rodrigo Rocha Loures e o ex-diretor de relações institucionais da JBS Ricardo Saud, o ex-assessor de Temer sugeriu o nome de Ricardo Mesquita como alternativa para receber o dinheiro da JBS, ideia que não agradou a Saud. Na mesma conversa, Rocha Loures afirma que “Edgar” seria um dos operadores viáveis à coleta das propinas da empresa porque “Yunes” e “coronel” não poderiam mais fazê-lo. Ele se referia ao advogado José Yunes e ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, ambos amigos de longa data do presidente.

 

Em respostas à Polícia Federal, Temer negou que tenha autorizado Rodrigo Rocha Loures a tratar em seu nome com empresários do setor portuário ou a receber recursos de empresas do ramo em retribuição ao Decreto dos Portos. Ele disse também que não autorizou Yunes e Lima Filho a receber recursos de empresas beneficiadas pelo Decreto dos Portos. O presidente negou conhecer Edgar Safdié, empresário a que, segundo a PF, Rodrigo Rocha Loures se referiu na sugestão a Ricardo Saud.

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